A General Motors (GM) está no centro de uma controvérsia que vai além da engenharia automotiva e se aprofunda no território da reputação digital. O Chevrolet Onix, durante anos o carro mais vendido do Brasil, tornou-se o protagonista de uma crise que une questões técnicas, redes sociais e confiança do consumidor. A peça no centro dessa disputa é a correia banhada a óleo do Chevrolet Onix, um componente desenvolvido para aumentar eficiência, mas que hoje gera uma onda de dúvidas e desinformação que ameaça a posição de liderança da montadora no maior mercado da América do Sul.
Desde julho de 2025, plataformas como YouTube e Instagram foram inundadas por críticas à durabilidade da correia presente nos motores 1.0 e 1.2 de três cilindros do Onix e do Onix Plus. Consumidores relataram casos de desgaste precoce e reparos de até R$ 30 mil, transformando o tema em manchete e tópico recorrente em fóruns automotivos. A GM, no entanto, afirma que apenas 3% das interações em seus canais oficiais envolvem a correia e sugere que a proporção elevada de críticas seja resultado de bots, perfis automatizados programados para replicar comentários negativos em escala.
“Como especialista em veículos, vejo a correia banhada a óleo do Chevrolet Onix como uma solução moderna e eficiente, desde que respeitado o uso do óleo correto e o cronograma de revisões. Assim como qualquer outro componente automotivo, ela exige manutenção preventiva adequada para entregar a durabilidade prometida pela fabricante”, diz Alan Corrêa, especialista em veículos do Carro.Blog.Br
“Na prática, o que percebo é que muitos problemas relatados estão diretamente ligados ao uso de lubrificantes fora das especificações ou à falta de revisões em concessionárias. Quando o carro é cuidado conforme as orientações da GM, a correia cumpre bem sua função e garante ao motor desempenho silencioso, econômico e confiável”, finaliza Alan Corrêa.

Alguns especialistas acusam uma ação coordenada de contas falsas, muitas vezes sem foto de perfil ou histórico de engajamento, que utilizam frases repetitivas como “seis por meia dúzia”. Um estudo interno apresentado durante o lançamento da linha 2026 apontou que comentários idênticos surgiam em intervalos curtos de tempo, sinalizando possível manipulação. Para especialistas em cibersegurança, esse padrão sugere o uso de redes de bots disponíveis em mercados paralelos digitais. A legislação brasileira ainda é vaga sobre o tema, mas juristas afirmam que tal prática pode configurar falsidade ideológica.
Enquanto a batalha virtual avança, a GM tenta neutralizar os danos no mundo real. A montadora introduziu uma nova correia reforçada, fornecida pela Dayco, que incorpora materiais como Kevlar, teflon e fibra de vidro, prometendo maior resistência mesmo diante do uso de óleos inadequados. A empresa também estendeu a garantia para 240 mil km, sem limite de tempo, aplicável retroativamente a modelos fabricados desde 2020. Além disso, passou a oferecer vistorias gratuitas em concessionárias, com substituição da peça por R$ 700 em casos necessários, ou troca de óleo e filtro por R$ 660 quando a correia se mantém em boas condições.
A correia banhada a óleo foi introduzida em 2019 no Brasil com a promessa de unir a leveza e o silêncio das correias de borracha à durabilidade das correntes metálicas. Em tese, poderia durar até 240 mil km, desde que os proprietários seguissem rigorosamente o uso de óleos recomendados, como o Dexos 1 Gen 2, com aditivos específicos para proteger a borracha contra degradação. No entanto, a prática mostrou que veículos de frotas e locadoras, frequentemente abastecidos com óleos mais baratos, apresentaram falhas precoces.
Casos relatados por motoristas indicam reparos com valores que assustam especialmente compradores de carros usados. Em fóruns e grupos de redes sociais, multiplicam-se relatos de perda de confiança, ainda que testes de longa duração conduzidos por revistas automotivas tenham mostrado resultados positivos em unidades que passaram por manutenção regular em concessionárias.
Esse contraste — entre consumidores que seguem as recomendações da fábrica e aqueles que não — ampliou a polêmica e criou terreno fértil para exageros e narrativas fragmentadas. Enquanto críticos apontam a correia como um erro de engenharia, defensores afirmam que se trata de uma solução moderna que exige disciplina de manutenção.
O impacto no mercado, no entanto, é mensurável. Depois de encerrar 2024 como o carro mais vendido do país, o Onix caiu para a quarta posição em 2025, com 42.078 unidades emplacadas até julho, atrás de Volkswagen Polo, Fiat Argo e Hyundai HB20. Para analistas, essa perda de espaço reflete tanto a concorrência crescente quanto a insegurança causada pela crise da correia.
A GM não é a única a enfrentar turbulências com a tecnologia. A Ford implementou sistemas semelhantes nos motores 1.0 e 1.5 do Ka e do EcoSport, enquanto a Peugeot utilizou a correia banhada a óleo nos motores PureTech do 208. Na Europa, a Stellantis foi alvo de críticas relacionadas à mesma tecnologia e decidiu substituí-la por correntes metálicas em alguns modelos, além de ampliar a garantia para 10 anos ou 175 mil km. Essa movimentação reforça a percepção de que, embora eficiente em teoria, a solução apresenta fragilidades quando aplicada em larga escala.

Especialistas destacam que a correia banhada a óleo é composta por borracha nitrílica hidrogenada reforçada com fibras de aramida e vidro, revestida com fluoreto para resistir ao calor e à contaminação. A evolução mais recente da peça, com maior teor de acrilonitrila e reforço de aramida PA66, busca corrigir falhas e resistir melhor a óleos fora das especificações. Mas, para consumidores já prejudicados, as atualizações chegam tarde.
O Onix 2026 chega com novidades de design, como faróis full-led e central multimídia de 11 polegadas, além de ajustes no motor 1.0 turbo para atender às novas regras do IPI Verde. A GM aposta que essas atualizações, somadas à nova correia e à garantia estendida, ajudarão a recuperar a confiança do consumidor. Mas analistas alertam que o estigma da correia banhada a óleo pode persistir por anos, exigindo mais do que medidas técnicas: será preciso restaurar a narrativa de que o carro mais popular do Brasil ainda é sinônimo de confiabilidade.